domingo, 11 de dezembro de 2011

Mais um clichê

E um ano se foi. E com certeza foi o mais longo da minha vida. Mas talvez o mais importante. Ou não.

Acontece que eu redescobri coisas, eu conheci pessoas que souberam estancar a minha dor, que me reanimaram, me fizeram mais madura. Eu também conheci pessoas que me machucaram, fizeram sangrar. Me expuseram meus maiores medos e problemas, pisaram e riram de mim.

Algumas se afastaram e me fizeram esquecê-las. Outras pareciam ter ido embora, mas voltaram subitamente, sorrindo para mim e dizendo: "Eu te disse que não ia embora, teimosa". E isso me fez maior.

Ainda tiveram aquelas que por mais que a distância permaneça (ou aumente em quilômetros), continuam mais ali do que nunca, mais ali do que outras tantas que estão ao meu lado todo dia.

Esse ano eu descobri sentimentos, eu valorizei coisas que nunca valorizaria. Eu perdi alguém querido e junto com ela, parte do meu rumo.

Eu briguei, briguei com muita gente. E não me arrependi, mas mudei. Eu não nasci para brigar, isso é bem verdade.

Eu resolvi lutar pela minha dor crônica, sem sucesso. O que me fez olhar para o problema com outros olhos e certo desespero, muitas vezes.

Eu fiz escolhas. Escolhas que foram duramente criticadas, mas que me fizeram muito bem, me fizeram muito maior e mais madura.

Esse ano eu tive mais responsabilidades do que nunca. E me preocupei, sim, por que se não, não era eu. Mas eu errei com estas responsabilidades, e nem sequer chorei com o erro. O que pode parecer retrocesso, mas para mim é grande avanço. Eu aprendi que não faz bem levar algumas coisas tão a sério.

Eu descobri ocupações que me trouxeram sorrisos, risadas e me devolveram o brilho nos olhos. E passei a ter o meu próprio dinheiro.

Eu me decepcionei com muita gente, como todos os anos. E menti também, como todos os anos.

Eu fui solitária por um bom tempo, eu não me permiti sair de casa, mas adorei ficar sozinha. Eu aprendi muito com mim mesma.

Eu ri, ri muito. E me joguei no chão para brincar de casinha, e me contorci, corri, pulei, cantei, apertei, abracei, recebi beijos extremamente babados nos olhos, no nariz, nas buchechas. Eu me deliciei com aquelas risadas e olhares e sofri com aqueles choros e dores.

Eu trabalhei muito, eu lidei com gente que não gosto, eu me estressei com burocracias, eu fui roubada, eu fui até duas delegacias, eu errei e chorei por isso, mas também me diverti muito, pulei, cantei, peguei cerveja pros outros, me fantasiei, mas tudo isso valeu mais do que a pena. Eu contribui pra algo que eu acreditava, e isso valeu todo o meu sofrimento e noites sem dormir.

E acima de tudo, eu conheci meu Deus. Eu me abri para ele e para mim mesma. Eu o ouvi e ele me ouviu. Eu achei o meu interior de forma pura. Eu me libertei das minhas dores conhecendo melhor a mim mesma. Eu o vi sorrir para mim e me guiando para um caminho melhor, sem sofrimento. E junto com ele veio uma irmã de alma, alguém que eu sinto uma conexão muito forte e me ajudou muito.

Se foi um ano bom? Se foi meu melhor ano? Acho que não. Mas foi assim. E foi essencial.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Ah, eu não me sentia bem. E é verdade que demorei alguns dias até começar a entender o que se passava dentro de mim. Eu tinha procurado, me cavado internamente, percorrido todos os meus caminhos inteiros, passado por todos os medos e todas as incertezas que criei. E agora eu estava ali, simplesmente exposta. Com a ferida aberta, pulsando e escorrendo de mim. Em carne viva, recém aberta. Era óbvio que eu despencaria, que em algum momento eu iria desmoronar e achar tolice tentar me invadir, me hackear, descobrir meus códigos e disfarces. Eu estava mesmo disposta a ficar na superfície, mas a minha curiosidade de mim mesma foi me tomando aos poucos e quando eu vi, pluft! Estava revelada. Era eu ali, a mais pura e sangrenta eu, despedaçada, dilacerada, vazia. Procurava restos de passado para me preencher de novo, me identificar. Nada antigo era meu mais. Eu buscava mudar, sair, inventar outra. Ser eu tem sido a maior das chatisses da minha vida. Não adiantava. O passado não era eu e nada que fosse externo e diferente, parecia me satisfazer também. Tentava remontar as histórias de todos aqueles que me despedaçaram e deixaram meus cacos no caminho. Às vezes com os restos de decepção, eu me criasse. Nada. Passei então a procurar os elogios, as falas bem polidas daquelas pessoas que me queriam bem. Não se encaixavam, não eram eu. E então, eu tive mesmo que me contentar. Eu seria assim, e não sei por mais quanto tempo as coisas ficariam desse jeito. Eu lá, esquartejada, exposta, aflita. E o mundo ao meu redor, medroso e descontente. Eu só queria que não durasse muito. O vazio dói. Lateja.

domingo, 1 de maio de 2011

There she goes...

É bom saber que a minha (e a de todos, espero) última lembrança de alguém que amo é feliz, cheia de vida, com o seu sorriso mais bonito, desses que o mundo todo sorri junto. É melhor ainda saber que alguém se foi deixando um legado maravilhoso, difícil até de descrever.

Sinto-me eternamente abençoada por ser fruto dessa família e por ser neta de quem só fez o bem, de quem foi exemplo de vida e vivacidade até o último segundo. Eu quero ser assim quando eu crescer, eu quero lutar pela vida do jeito que ela lutou, quero que a esperança seja sim a última a morrer.

Ela se foi, mas a única coisa que consigo pensar é a quantidade de gente que ela deixou feliz. Se tem algo que eu tenho certeza é que a felicidade que cada um dessa família possui depende dela. Eu aprendi a ser feliz com ela, assim como meus tios, meus pais, meus primos, meu irmãos e outras dezenas de pessoas.

Ela se foi, mas já não importa mais. Pois deixou em nós todo o carinho e o amor que cultivou a vida inteira. Plantou, plantou, até a última flor florescer e depois partiu, deixando em cada um de nós uma árvore imensa e florida, que ela só espera que cuidemos com muito carinho. Por respeito a todo esse esforço, eu regarei minha árvore todo dia, o máximo que eu puder, até ela não ter mais pra onde crescer e assim se multiplicar em mais outras milhares de pessoas. E quando isso acontecer, eu não tenho dúvidas de que ela estará assistindo e sorrindo para mim.

Eu aprendi Vó, aprendi a ser feliz com você e sei que não estou sozinha. É por respeito a todo seu esforço que eu e toda família lutaremos com todas as forças para que estejamos sempre unidos, fortes e otimistas, como você nos ensinou.


Com eternas saudades, homenagem para a razão do meu sorriso, Lêda Maria Linhares Ayres.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

There's no grather love...

Idolatrar alguém pela sua arte é um tanto quanto estranho pra mim. Eu sinceramente nunca me imaginei nesse tipo de papel. É fato que eu sempre fui uma pessoa que me apaixonei por qualquer coisa. Um livro, um filme, uma atividade, uma música... Mas nunca me imaginei idolatrando uma pessoa por seu livro, filme, atividade, música. Não ao ponto que cheguei.

Explicar a sensação de ter alguém que você ouviu todas as músicas milhões de vezes, viu clipes e mais clipes, shows e mais shows, é impossível. Me arrepio até hoje só de lembrar aqueles dois homens negros e bonitos anunciando "Ladys and gentleman, Ms. Amy Winehouse". Era como se por um momento meu coração tivesse parado e as lágrimas surgiram muito mais do que involuntariamente, jorraram para fora de mim, meio que me dizendo: "Eu sei que é embaraçoso, mas você não pode controlar! Você a ama, mesmo ser ter dito um olá para ela". E era justamente isso. Eu a amo, completamente.

Sua performance no palco era cada vez mais inusitada, mais brilhante. Sem comentar nada imbecil e sem cabimento sobre o quanto de alcool que ela tinha ingerido (MEU DEUS! UM TEXTO SOBRE A AMY WINEHOUSE SEM DIZER QUE ELA É BEBADA E DROGADA!), ela foi extremamente brilhante do começo ao fim. Envolveu-me em uma atmosfera de brincadeira e sensualidade pronfunda e encantadora. Foi de menina a mulher em poucos segundos, brincou com o imaginário de seus espectadores, cada hora fingindo ser uma coisa. Por um momento, mulher segura e voraz, por outro, indefesa, insegura, alguém que precisa de colo. Transformava-se de delicada e gentil a rabigenta e grossa de uma maneira admirável. E o mais engraçado é que quase a vi dizer: "Faz parte do meu show, meu amor", dando uma gargalhada para todas aquelas pessoas que não compreendiam que tudo aquilo para ela não passava de um jogo, de uma encenação que ela explorava com todas as suas ferramentas, todos seus sentimentos. Para mim cada gesto, cada nota, cada música me mostrava uma face diferente da Amy, mostrava que tinha muito mais pra mostrar, deixava todos radiantes e implorando por mais.

Amy é perfeita na execução de seu trabalho. Canta as músicas com uma sinceridade e emoção digna de choro ou sorrisos no canto do rosto. Amy se expõe e coloca em suas composições partes importantes e extremamente íntimas de sua vida, tudo pela arte. E ela não parece incomodada com isso. O que lhe incomoda são as centenas de pessoas curiosas em saber coisas que ela não quis contar.

Sinto informar que o público não ajudou em nada em seu show. Muitos estavam ali para rir de seus vergonhosos passos tortos ou beber até cair se inspirando na "musa". No entanto, me sinto meio tola e ingênua de não esperar este tipo de público. Afinal no mundo atual as pessoas já não são julgadas por sua arte e sim pelos seus atos e polêmicas pessoais. E era justamente essa polêmica que tinha colocado Amy ali, infelizmente era o que movia pessoas a ouvi-la. Sinto repulsa por todas aquelas pessoas que foram em busca de barracos, cenas degradantes. Só consigo ter nojo de como as pessoas são mórbidas ao ponto de pagar (e bem caro, diga-se de passagem) só para ver a que situação o vício pode levar o homem.

O que me anima é que estas pessoas devem ter voltado para casa bem desoladas, pois a única coisa que puderam ver foi um show magnífico, uma performance incrível, excelentes músicos e alguns xingamentos.

É por isso, por Amy deixar tão claro em seu show de que não é apenas uma amostra do efeito de pessoas sem talento e polêmicas que fazem de tudo para estar na mídia, que eu saí do show a idolatrando cada vez mais.


Escrito dia 12/01/2011