terça-feira, 10 de março de 2015

Parece que a gente não percebe quando as coisas desabam.
Ou a gente não quer perceber.
Era como se tudo caísse tão depressa, que não soubessemos o rumo que tomaria, a dor que traria, o rombo que formaria.
E não estancamos mais a dor.
Ela brota de origens diferentes, pulando das entranhas.
Todo o peso nas costas,a sensação de inutilidade, incapacidade.
A dor de não aguentar tudo junto.
A dor de desistir.
A dor de não conseguir mais tentar.
A dor de cabeça que não passa.
A dor de cabeça que não passa de um sinal, para que se desligue tudo e durma.
E por mais que tente desistir, sempre tem algo que impede.
Alguém que diga que "será bom pra você".
Era como se não admitissem, que ela não saberia lidar.
Era como se não acreditassem, que ela não soube.
Era como se lhe faltasse o ar pra respirar.
E cada vez lhe cobravam mais.
E cada vez ela SE cobrava mais.
Ate que surgiria a pergunta:


-Se eu não consigo cuidar de mim, se nem casa eu tenho mais, como eu vou conseguir cuidar dos outros?


Espero que um dia, isso seja justificativa.




26 de março de 2008 e a sensação é que foi hoje, que poderia ter sido agora.

domingo, 30 de novembro de 2014

Sobre se lançar no voo do pássaro

Fim de ano, fim de período, inferno astral. Duas faculdades, um curso, uma monografia. Domingo passado eu deitei na cama e disse: “É nessa semana que eu tenho três crises de enxaqueca, uma amigdalite, uma dor na lombar e acabo passando três dias em casa de repouso. Vambora”. A semana passou, hoje é domingo de novo e fora as pouquíssimas horas dormidas, eu sobrevivi, sem nem encostar nas enormes cartelas de remédio que levava na mochila em caso de emergência. Sem dor, sem estresse, com sorriso.
Acontece que finalmente, eu estacompleto a minha semana, o meu tempo e a minha disposição em coisas que me nutrem e me fazem feliz. Preencho com amigos que eu tenho orgulho de estar ao lado e que a cada dia me apresentam uma nova reflexão sobre a vida de um jeito bonito. E mais do que tudo, hoje eu falo, falo, falo sem parar. Sobre todos os meus projetos, ideias, vontades. As coisas literalmente deixaram de ficar somente na minha cabeça e ganharam uma força enorme quando sairam pelo mundo, feito passarinho.
Acontece que eu aprendi a respeitar meu ritmo e meu corpo, aprendi a colocar no meu horário um tempo para mim e mais do que tudo, eu sei que se alguma coisa der errado no meio do caminho, não tem problema. Semântica não é tão importante assim na minha vida e não faz tanta diferença tirar 2 ou 9 na prova. E eu só preciso de 2 pra passar. Eu sei disso faz tempo, muito tempo. Não canso de dizer por aí que prova não faz a menor diferença, que não quer dizer nada sobre ninguém. Mas como era difícil falar isso pra mim mesma e aceitar tirar 2 em uma prova – que no final talvez eu nem tenha ido tão “mal” assim.

Acontece que, a duras penas, aprendi a fazer do obstáculo, degrau. Ou caminho. E desde que passei a ver minha dor como forma de conhecer a mim mesma, tudo na vida tomou outra proporção. Me sinto mais completa, mais eu, mais pronta pra encarar o mundo que olha, não é nada fácil não. E é incrível perceber a complexidade das coisas e de mim mesma sem ter medo disso. Encarar as contradições, discussões e questões da vida sem simplificar, relativizar, não. Me lanço no mundo, peito aberto, não tenho nada a perder.

Obrigada a todos os meus amigos e família que me acompanham no processo e fazem tudo ficar mais rico, complexo e completo.

Escrito em 10 de setembro de 2013

Outro dia, quando eu estava saindo de casa, segurei a porta para uma velinha entrar na portaria. Depois que fechei a porta o porteiro me disse: "Ela é empregada." Confusa, eu lhe respondi que era uma senhora. Passei uma hora no ônibus tentando entender aonde foi que o mundo errou para que as pessoas não fossem mais olhadas como pessoas e sim como suas funções. 

Naquele mesmo dia, ouvi a grande Rosa Maria Martelo falando sobre o neoliberalismo e sua capacidade de, através da linguagem, associar o indivíduo apenas a sua função social e tornar normal aquilo que é a maior atrocidade. Em poucas e não tão belas palavras: a criação do senso comum. Rosa (e como é lindo esse nome) falava da poesia, e como só ela é capaz de subjetivar o indivíduo, trazer a tona sua singularidade.

Naquela noite uma menina de rua passou a mão no meu rosto e eu, assustada, recuei. Respirei e pensei: "Ser humano, não função social" e magicamente meu olhar se voltou para a linda boneca encardida que ela trazia em seus braços. "Sua boneca é mesmo linda." Contei a história a um amigo e ele disse "É aí que eles enfiam a faca na sua cara."

Eu não dormi naquela noite. E certamente não dormirei hoje também. Porque hoje, proibiram as máscaras na rua, impediram pessoas de se manifestarem e tornarem-se sujeito. Hoje colocaram vidraças de bancos acima de seres humanos e novamente a função social se sobrepôs.

Além de tudo, vejo na novela termos como "coxinha" e "vândalo" se repetirem, como se esse vocabulário fosse natural ao nosso cotidiano há anos. E aí comecei a entender uma das muitas artimanhas do neoliberalismo para tornar grandes vitórias e lutas, senso comum.

Os olhos da menina de rua não saem da minha cabeça, assim como os olhos de todos os manifestantes que sofreram e sofrerão muito ainda com as atrocidade da lógica do poder. Para conseguir ficar em paz e seguir em frente, Rosa Maria Martelo também ecoa dentro de mim: POESIA É SOLIDARIEDADE.

segunda-feira, 17 de março de 2014

da página, nasci
em meu sangue
palavras
que agora luto para que surjam de mim
sangro, sujo a página
aquela da qual nasci
e que segue em branco
silêncio
há palavras não ditas
sobrevivo
ou morro?
falta-me sangue
ou é ele que em mim está entalado?
imóvel permaneço

segunda-feira, 30 de julho de 2012

E de repente eu me lembro que um dia você estava aqui. Que um dia você alisou meus cabelos antes de dormir, você sorriu ao me ver sorrir. De algum jeito eu te sinto aqui ao meu lado, mas o ar está pesado. A ideia de não te ver nunca mais dói em mim, me esmaga na cama. A noite caiu e eu não sei o que fazer com ela. Me sinto amarrada na cama e nas lembranças que nem sei se são reais ou se inventei para lembrar de você. Outro dia você me apareceu em sonho, lindo.Sempre de branco, em pé. Me chamava para algum lugar e me sorria um sorriso muito sincero. Espero mesmo que você esteja feliz e olhando por mim do mesmo jeito bonito que olho para você. Te inventei e agora você está aí, tão real em mim, tão forte que minhas lágrimas escorrem para ninguém. Ou para a mistura de pessoas que perdi durante a minha vida. Você continua sendo um sonho, de olhos azuis e cadeira de rodas, que talvez um dia eu vou encontrar e agradecer. Você me fez entrar em contato com algo que eu não conhecia, um mundo inteiro de sensações que nunca experimentei. Se não fosse você, fruto de mim, eu mal saberia colocar em palavras meus sentimentos. Foi você que fez desabrochar, e faz. Alivio a minha dor que não sei de onde vem nas palavras para você, o sono vem e durmo tranquila, ainda sem saber como a dor se instaurou em mim, de onde veio aquela minha saudade que me fez chorar, mas conseguindo me desamarrar da cama, me virar, suspirar e dormir.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Deslizo pelas ruas frias, gélida. Esquálida. Estou morta. As lágrimas não escorrem, por mais vazia que me sinta. Estou morta. A respiração calma, as pernas duras tremem. A falta de sentido, de caminho. A dor no peito que me empurra, que me faz seguir a diante. Estou morta e não vejo renascer. O coração acelerado, a palidez na face. Estou morta. Completamente vazia, pesada, sem forma. Estou morta e tenho medo. Não renascerei, mas parmanecerei assim, morta-viva, deslizando por pedras portuguesas, sem nada a minha frente. Estou viva. Ou morta. Ou tanto faz.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Mais um clichê

E um ano se foi. E com certeza foi o mais longo da minha vida. Mas talvez o mais importante. Ou não.

Acontece que eu redescobri coisas, eu conheci pessoas que souberam estancar a minha dor, que me reanimaram, me fizeram mais madura. Eu também conheci pessoas que me machucaram, fizeram sangrar. Me expuseram meus maiores medos e problemas, pisaram e riram de mim.

Algumas se afastaram e me fizeram esquecê-las. Outras pareciam ter ido embora, mas voltaram subitamente, sorrindo para mim e dizendo: "Eu te disse que não ia embora, teimosa". E isso me fez maior.

Ainda tiveram aquelas que por mais que a distância permaneça (ou aumente em quilômetros), continuam mais ali do que nunca, mais ali do que outras tantas que estão ao meu lado todo dia.

Esse ano eu descobri sentimentos, eu valorizei coisas que nunca valorizaria. Eu perdi alguém querido e junto com ela, parte do meu rumo.

Eu briguei, briguei com muita gente. E não me arrependi, mas mudei. Eu não nasci para brigar, isso é bem verdade.

Eu resolvi lutar pela minha dor crônica, sem sucesso. O que me fez olhar para o problema com outros olhos e certo desespero, muitas vezes.

Eu fiz escolhas. Escolhas que foram duramente criticadas, mas que me fizeram muito bem, me fizeram muito maior e mais madura.

Esse ano eu tive mais responsabilidades do que nunca. E me preocupei, sim, por que se não, não era eu. Mas eu errei com estas responsabilidades, e nem sequer chorei com o erro. O que pode parecer retrocesso, mas para mim é grande avanço. Eu aprendi que não faz bem levar algumas coisas tão a sério.

Eu descobri ocupações que me trouxeram sorrisos, risadas e me devolveram o brilho nos olhos. E passei a ter o meu próprio dinheiro.

Eu me decepcionei com muita gente, como todos os anos. E menti também, como todos os anos.

Eu fui solitária por um bom tempo, eu não me permiti sair de casa, mas adorei ficar sozinha. Eu aprendi muito com mim mesma.

Eu ri, ri muito. E me joguei no chão para brincar de casinha, e me contorci, corri, pulei, cantei, apertei, abracei, recebi beijos extremamente babados nos olhos, no nariz, nas buchechas. Eu me deliciei com aquelas risadas e olhares e sofri com aqueles choros e dores.

Eu trabalhei muito, eu lidei com gente que não gosto, eu me estressei com burocracias, eu fui roubada, eu fui até duas delegacias, eu errei e chorei por isso, mas também me diverti muito, pulei, cantei, peguei cerveja pros outros, me fantasiei, mas tudo isso valeu mais do que a pena. Eu contribui pra algo que eu acreditava, e isso valeu todo o meu sofrimento e noites sem dormir.

E acima de tudo, eu conheci meu Deus. Eu me abri para ele e para mim mesma. Eu o ouvi e ele me ouviu. Eu achei o meu interior de forma pura. Eu me libertei das minhas dores conhecendo melhor a mim mesma. Eu o vi sorrir para mim e me guiando para um caminho melhor, sem sofrimento. E junto com ele veio uma irmã de alma, alguém que eu sinto uma conexão muito forte e me ajudou muito.

Se foi um ano bom? Se foi meu melhor ano? Acho que não. Mas foi assim. E foi essencial.