sábado, 3 de dezembro de 2011

Ah, eu não me sentia bem. E é verdade que demorei alguns dias até começar a entender o que se passava dentro de mim. Eu tinha procurado, me cavado internamente, percorrido todos os meus caminhos inteiros, passado por todos os medos e todas as incertezas que criei. E agora eu estava ali, simplesmente exposta. Com a ferida aberta, pulsando e escorrendo de mim. Em carne viva, recém aberta. Era óbvio que eu despencaria, que em algum momento eu iria desmoronar e achar tolice tentar me invadir, me hackear, descobrir meus códigos e disfarces. Eu estava mesmo disposta a ficar na superfície, mas a minha curiosidade de mim mesma foi me tomando aos poucos e quando eu vi, pluft! Estava revelada. Era eu ali, a mais pura e sangrenta eu, despedaçada, dilacerada, vazia. Procurava restos de passado para me preencher de novo, me identificar. Nada antigo era meu mais. Eu buscava mudar, sair, inventar outra. Ser eu tem sido a maior das chatisses da minha vida. Não adiantava. O passado não era eu e nada que fosse externo e diferente, parecia me satisfazer também. Tentava remontar as histórias de todos aqueles que me despedaçaram e deixaram meus cacos no caminho. Às vezes com os restos de decepção, eu me criasse. Nada. Passei então a procurar os elogios, as falas bem polidas daquelas pessoas que me queriam bem. Não se encaixavam, não eram eu. E então, eu tive mesmo que me contentar. Eu seria assim, e não sei por mais quanto tempo as coisas ficariam desse jeito. Eu lá, esquartejada, exposta, aflita. E o mundo ao meu redor, medroso e descontente. Eu só queria que não durasse muito. O vazio dói. Lateja.

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